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Folha de São Paulo de 18 de janeiro passado traz uma matéria interessante sobre a modernização tecnológica da economia Brasileira entre 1990 e 2001. Foram eliminados 10,76 milhões de emprego segundo pesquisa realizada pela UFRJ. O coordenador do estudo, David Kupfer diz que o "desafio do país é continuar com o seu processo de modernização, necessário para competir aqui e lá fora, e criar vagas".
Uma outra matéria, em edição anterior, mostra a decepção dos analistas econômico pela pífia criação de novos empregos, 1.500 vagas, nos EEUU nos mês de dezembro, apesar da taxa de crescimento anualizado no último trimestre de 2003 está acima de 8%. Esperava-se a criação de 150 a 200 mil novas vagas com o crescimento econômico. E o pior: apesar do crescimento, a indústria nesse mês fechou 60 mil vagas. Voltou-se a falar na imprensa americana em crescimento econômico sem criação de empregos.
Apesar da distância, as duas matérias se completam. A matéria sobre a economia americana mostra que a cada crise, acirra-se a concorrência e investe-se pesado em tecnologias dispensadoras de trabalho. Num primeiro momento, o impacto é tamanho na produtividade que surpreende políticos e especialistas no que diz respeito à criação de novos empregos. As outras economias, obedecendo à força cega da concorrência, mais tarde ou mais cedo reagem de forma semelhante se não quiser sucumbir.
E qual é o resultado dessas mudanças, na maior economia do mundo, junto aos países emergentes, inclusive o Brasil? Provavelmente uma onda de produtos mais barato vai inundar o planeta e, muitas das indústrias, pelo atraso tecnológico, não suportarão a concorrência e vergarão. São as importações que eliminam empregos. Outras, mais bem posicionadas no mercado, investirão pesado em tecnologia fechando postos de trabalho.
Contrariando a demagogia nacionalista, os dados da Folha mostram que a grande destruidora de vagas para o trabalho vivo são as mudanças tecnológicas e não a abertura às importações: 10.763.212 empregos eliminados pela primeira contra 1.548.532 empregos pela segunda. Em países como o nosso, por ter "fechado" sua economia durante algum tempo, o impacto da modernização tem sido bem mais dramático. Os 20% de desempregados na Grande São Paulo mostra isso com muita clareza. A indústria automobilística é quem mais evidenciou este fenômeno, quando sobre a pressão do mercado, foi obrigada a deixar de lado as carroças para fabricar carros mundiais.
O grande paradoxo do capitalismo em sua fase atual é que esse enorme e crescente potencial produtivo tanto gera riqueza em proporções jamais visto, quanto uma onda gigantesca de um mar de miséria de destituídos que se esparrama por todo planeta. Apesar da exclusão ser intrínseca a lógica da sociedade produtora de mercadoria, inclusive nas instituições que dizem lutar pela eqüidade, criou-se na esquerda a ilusão redistributiva. É comum ouvir da boca dos mais esquerdistas o discurso da "democratização do capital" (o que é isso?), redistribuição de renda e outras lorotas impossíveis nos dias atuais.
Quanto à fala do Sr. David Kupfer citada acima, gostaria de fazer uma breve observação: quando ele coloca como desafio das políticas de governo a geração de emprego, expressa a posição comum dos políticos: quanto mais se agrava a crise do trabalho mais aumentam aos milhões suas cotas ilusórias de novos empregos para depois das eleições. Nesse nosso abençoado Brasil todas as velas têm sido acesas ao venerado Deus-trabalho, esperando-se que se opere um milagre.
21.01.2004
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