terça-feira, janeiro 25, 2011

O retorno do emprego na indústria ou saudades de um passado que não volta mais

Rall

Começa surgir na imprensa um forte debate sobre qual capitalismo deverá ressurgir após o tão esperado estancamento da crise. Dizem que Obama e sua corte de economistas preferem que nas cinzas ainda em brasa seja erguido um novo edifício aonde se priorize a indústria com vistas ao mercado externo. É voz corrente entre assíduos frequentadores dos salões palaciano da Casa Branca, que o Presidente americano assumiu a tese da necessidade da expansão do emprego industrial como forma de reduzir o desemprego e se contrapor ao surgimento de novas bolhas. A economia americana, centrada em serviços, com a indústria contribuindo com apenas 8% do total de empregos, teria que elevar esse número para aproximadamente 25%, segundo os defensores da tese de que só com esses níveis de emprego industrial seria possível barrar o surgimento de outras bolhas e melhorar a média salarial do trabalhador americano. Parece haver uma importante contribuição dos desenvolvimentistas tupiniquins ao que hoje é defendido na América do Norte.

Porém, os detratores dos industrialistas tradicionais, ao atacarem, dizem que poucos sabem sobre a tendência “natural” aos serviços das economias maduras. Para eles não é a indústria produtora da vulgar e palpável mercadoria que deve receber a atenção do Governo, estas podem ser fabricadas a preços módicos no sujo e ávido por lucro mundo em desenvolvimento e ainda culpa-los pelos desastres sociais e ecológicos que ceifam vidas. Acreditam que a atenção deve ser dirigida as indústrias de bens imateriais, como Facebook, Google etc., e aquelas que se propõe gerar energia limpa para ansiosos consumidores. Centrar o esforço nas indústrias de alta tecnologia, inclusive a militar, para suprir o mercado interno e exportar, é o que defendem.

Suponhamos que a expansão da indústria fosse o caminho para diminuição do desemprego e a sustentada retomada como querem os primeiros. Mas será que os produtos americanos conseguiriam, no mercado mundial, competir com os similares chineses e de outros países que pagam baixos salários? Mantendo as condições atuais das indústrias, seria necessário que as empresas americanas aproximassem os salários de seus funcionários aos dos trabalhadores chineses, missão difícil apesar da depressão salarial que vem afetando os trabalhadores não qualificados.

A outra saída seria a intensificação ao extremo da produtividade através de novas tecnologias capazes de compensar os baixos salários dos países da periferia do capitalismo, que garante preços competitivos para suas mercadorias. Isso significaria altos investimentos em capital fixo, que só seria possível com mais endividamentos. Provavelmente não seria a solução para o desemprego na indústria local e, ainda, poderia fazê-lo aumentar em outros países. Mesmo assim, a tendência dos países em desenvolvimento em investir em máquinas e equipamentos para aumentar a produtividade, mantendo dentro do possível baixos os salários dos que ficam, dificultaria tais intenções.

A opção de aumentar a fatia do emprego industrial no mercado interno, considerando a alta “lucratividade” no momento do setor empresarial, fruto da política expansionista e generosa do Federal Reserve, das demissões e da desvalorização do dólar que facilita as exportações, exigiria um afastamento das indústrias americanas da zona de conforto fora de suas fronteiras, onde uma certa rentabilidade ainda é possível com investimentos menores. O movimento que se observa é uma fuga das empresas globais para áreas mais carentes do terceiro mundo em busca de baixos salários e de Estados autoritários que mantêm todos sob controle. Na Ásia, a corrida já se desloca do mercado de trabalho chinês com custos salariais em ascensão, para Bengladesh, Laos, Camboja e Vietnam, onde os salários são mais baixos e os trabalhadores habituados à férrea disciplina militar da caserna, adaptam-se as fábricas sem resistências. Mesmo os ramos industriais de ponta, que não apresentam essa mobilidade e se mantem nos países-sede, acossados pelo fogo cerrado da concorrência, são obrigados, sempre recorrendo ao crédito, fazerem enormes investimentos em automação para aumentar a produtividade, expulsando trabalho, substância do valor, da engrenagem de valorização do capital.

Com a contração do mercado interno, tem sido possível o aumento das exportações americanas para os países que tem suas moedas apreciadas em relação ao dólar e vem expandindo o PIB. Se os rumos mudam, não há nenhuma garantia do prosseguimento desse movimento que nem sequer tem parado as demissões, apesar de todo estímulo do Governo visando à criação de novos postos de trabalho.

A percepção dos analistas burgueses, que associam a queda do emprego na indústria com o surgimento das bolhas é parcial, como dizem: veem as árvores, mas não enxergam a floresta. Sabem que a rentabilidade vem caindo, mas só percebem no crescimento do trabalho improdutivo, ou seja, no trabalho que não gera mais valia, o problema. A acelerada expansão das terceirizações nas últimas décadas foi a aparente saída, encontrada pelo neoliberalismo, para este impasse. No entanto, isso não impediu o aprofundamento da crise e os apelos às bolhas, todas, direta ou indiretamente, ligadas a necessidade de crédito sem limites como forma de manter em andamento a acumulação simulada.

Conclusões baseadas em observações que desconsideram a análise da lógica interna do funcionamento do capitalismo e a história dessa forma específica de produção, que irreversivelmente, forçada pela concorrência, aumenta a produtividade liberando força de trabalho, são insuficientes por não revelar as tendências imanentes à dinâmica do capital verificadas a longo prazo. Portanto, para decepção dos saudosistas de direita e esquerda, é pouco provável essa volta ao passado do emprego industrial com os rearranjos da economia mundial, aos níveis desejados nos EUA e em outros países desenvolvidos.

25.01.2011