segunda-feira, junho 12, 2006

Breves reflexões sobre teoria e práxis

Rall


As dificuldades teóricas estão por toda parte.Uma delas é sobre a relação dolorida entre teoria e práxis. Entendo que na sociedade em que vivemos é muito difícil a “articulação” desses campos. Sempre vamos ter os teóricos puros e aqueles que, em sua prática social, irão aceitar ou descartar essa ou aquela teoria. Acho, porém, que o teórico puro, apesar do distanciamento necessário, devem estar munidos dos melhores instrumentos capazes ampliar a visão que se tem da realidade, podendo detectar o ainda invisível para os movimentos sociais, muitas vezes movidos só pelo senso comum. É muito difícil para quem estar diretamente envolvido nos movimentos, mesmo detendo alguma clareza teórica, destrinchar suas possibilidades: quando “massa” perdemos a nossa individualidade. É como se constituíssemos um superego coletivo que não sendo a somas dos eus presentes, arrasta o movimento social em determinadas direções. Não estou falando de uma simples assembléia ou coisa semelhantes, mas em movimentos que são capazes de mudar a realidade.

O problema é o sentido dessa mudança, e aí entra os teóricos. A história coloca para os movimentos sociais, acredito, um leque de opções diferente em cada momento. Podem ser empurrados para caminhos diversos, inclusive contrário as suas palavras de ordem e objetivos iniciais. Estes possíveis caminhos produzem o debate teórico. Já se dizia que não existe revolução sem teoria revolucionária. Em outras palavras, o movimento social deve ser municiado de alguma forma por teorias que não se geram espontaneamente em seu seio, mas são por ele alimentadas. Se acatarmos a relevância do teórico puro, temos que concordar com essa premissa. Isso pode nos causar um certo arrepio, porém, é bom lembrar, que elaborações teóricas que se prezem como teoria crítica é fruto do desbravamento do seu objeto de estudo e da ação deste sobre seu observador. O teórico puro, portanto, apesar do distanciamento necessário ao focar suas lentes de aumento no movimento social e de estar atento ao significado das teorias que deseja criticar ao observar fatos novos, não é um observador isento.

Mediando a relação entre a teoria na sua forma mais acabada e o movimento social, estão os militantes que ao se apropriarem dessa teoria vão estar numa relação tensa com as pulsões do movimento. Em certos momentos a teoria facilita sua ação, em outros é descartada pela dinâmica do movimento como um casaco puído que já não esquenta mais. É nesse processo contraditório, não linear e rico, mas lento para nossa existência, que o movimento social, em um certo ponto, toma consciência, concentra todas as suas possibilidades e faz a história acontecer. O movimento social, suas lideranças bem como os indivíduos que nele envolvidos buscam nas ações a “veracidade” dos conceitos teóricos, estão sempre colocando novas questões nem sempre respondidas pelas teorias: a realidade estará a exigir sua negação. A teoria quando congelada é ideologia, representação grotesca do real. Assim era marxismo oficial dos países antes chamados socialistas e os dogmas que orientam a ação de alguns grupos atuais. O movimento social, cuja pureza é uma abstração ingênua, não está imune a tais riscos.

28.01.2004

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