terça-feira, março 25, 2008

O beco sem saída da economia americana tende agravar a crise global

Rall


Do Norte só chegam notícias do agravamento da crise e da paralisia da economia. Instituições financeiras que antes pareciam “sólidas desmancham-se no ar”. O Federal Reserve põe suas máquinas de imprimir papel de cor verde funcionando com a máxima capacidade e autoriza que “dinheiro seja jogado de avião” para salvar bancos e financeiras bambas das pernas. A expansão da base monetária americana, sem lastro na economia real, igual a qualquer república das bananas, não produz o milagre esperado, mas aumenta a inflação e ajuda o dólar no seu desembesto ladeira a baixo. As instituições financeiras dão como garantia ao Fed, ao receber o papel pintado de verde, as hipotecas podres ou outros papéis sem nenhum valor no mercado. Assim, o Estado busca resgatar o mercado assumindo os prejuízos num jogo contábil nem sempre bem sucedido.

Tanto papel, é claro, termina por entupir alguns buracos pretéritos, mas a insolvência que se manifesta em tempos diferentes, continua abrindo outros à medida que a crise avança. Por isso já se pensa seriamente nos EEUU perdoar parte da dívida imobiliária dos cidadãos americanos, cujo montante é bem superior ao valor de seus imóveis e de sua capacidade de administrá-la, como forma de aliviar as pressões sobre o sistema financeiro. Mas a crise do crédito não se restringe as sacrossantas residências, que tinham na crescente valorização e no constante refinanciamento a juros baixos, a salvação de todos penduras das famílias: das hipotecas ao cartão de crédito, sem deixar de lado o carro do ano e outros produtos de consumo perecíveis e não-perecíveis, com prazos a perder de vista . Mesmo que nada acontecesse, que a massa salarial não se alterasse e o desemprego continuasse o mesmo, o americano endividado não teria condição de honrar seus compromissos sem uma boa ajuda do dinheiro fictício das bolhas geradas em vários setores da economia, mas, principalmente, nos imóveis e bolsas de valores.

Com a implosão das bolhas o consumo e a atividade industrial tende a cair, o desemprego aumenta e emperra mais ainda o crédito, que já restrito, volta a agir negativamente sobre consumo, num efeito bola de neve. Apesar da derrama de dinheiro pelos Bancos Centrais dos países ditos desenvolvidos e dos juros negativos nos EEUU, o capital disponível não flui, mantém-se entocado pela desconfiança generalizada entre empresas financeiras, que por sua vez castigam os consumidores endividados. Essa desconfiança é um importante indicador da gravidade da crise. Num segundo momento, clientes desconfiados, transferem dinheiro dos bancos para o Tesouro, comprando papéis dos governos que necessitam avidamente desses recursos, principalmente o Governo americano no afã de fechar suas contas. Essa modalidade de saque tende a crescer e a agravar seriamente a situação dos bancos, dos fundos de investimentos e das bolsas. A corrida silenciosa a formas aparentemente segura de entesouramento pode ser a última rodada da crise que poderá levar o sistema financeiro ao chão. Parte do dinheiro, tão generosamente doado pelos bancos centrais ao sistema financeiro, pode estar sendo utilizado para cobrir essas saídas, reduzindo mais ainda a circulação do capital.

A competição do Governo americano por recursos externos e internos para cobrir anualmente os déficits em conta e fiscal de US$ 1 trilhão, oriundos principalmente do desequilíbrio comercial externo e dos gastos de guerra, é mais um elemento agravante da falta de liquidez. O dinheiro que sai pela porta da frente do Banco Central, quando não consumido nos buracos negros da inadimplência, volta pela porta dos fundos do Tesouro, num círculo difícil de ser quebrado quando a falta de confiança dos agentes econômicos é generalizada. Na situação em que se encontra a economia global, e, particularmente, a americana, dificilmente a máquina de fazer dinheiro do Fed e os juros negativos suprirão às necessidades causadas pelo estouro da bolha imobiliária sem o risco de uma inflação de muitos dígitos (em aparente conflito com a deflação dos imóveis e outros ativos), cujos primeiros sinais é a mega desvalorização do dólar frente as demais moedas.


25.03.2008