domingo, novembro 16, 2008

As ações dos Estados são capazes de conter a crise após a explosão das bolhas?

Rall

A crise se alastra muito rapidamente para todos os setores da economia mundial. Não se fala mais em socorro só dos estabelecimentos financeiros, mas também de gigantes da indústria e comércio como a General Motors, Ford, importantes redes de varejo para não irem à falência. As informações são da redução da atividade industrial ou do fechamento de milhares de empresas pelo mundo a fora, principalmente na China e nos EUA. As estatísticas sempre prontas para esconder o pior, já não conseguem mais negar a velocidade do desemprego galopante. Numa crise estrutural, a passagem da deflação para inflação e vice-versa, dar-se-á em grande velocidade, como também é possível a convivência de ambas em setores diversos num mesmo país ou em países diferentes.

O volume de papéis circulante que faz às vezes do dinheiro é inflacionário. Se acrescido de dinheiro impresso que nada expressa pode ser catastrófico. Num primeiro momento, esse dinheiro que não representa valor pode parecer a salvação quando se raciocina em termos contábeis. Uma empresa que necessita de bilhões em capital para cobrir rombos financeiros vai ficar satisfeita ao recebê-lo. Mas, ao entra em circulação, rapidamente se desvaloriza pelo aumento dos preços das mercadorias que no processo de troca se ajustam ao excesso de dinheiro circulante. Os mecanismos monetários utilizados pelos bancos centrais para enxugar o mercado podem não ser acionados, pois, aparentemente, o mercado insolvente sofre por falta de liquidez. Surge então o risco da estaginflação.

De certa forma é o que estamos observando na economia global: os governos, na tentativa estimular as atividades econômicas em recessão, reduz os juros e põem dinheiro no mercado apesar dos sinais latentes ou explícitos de inflação. Como os agentes econômicos e o Estado burguês entendem que a inflação seria a forma menos grave de a economia purgar seus "excessos", mesmo sendo esta devastadora para as vastas camadas da população que não tem condições de se proteger contra a alta dos preços e corrosão dos salários, tendem optar por medidas inflacionárias que se contraponham a deflação, acreditando inclusive na possibilidade de aí exercer um melhor controle. Essa é também forma de pensar dos economistas chamados desenvolvimentistas ao defenderem a modernização dos países atrasados.

Nas bolhas, o dinheiro fictício, encontra-se de certa forma contido enquanto os mecanismos de remuneração funcionam. Numa situação de “normalidade financeira” vai se reciclando sob controle quando utilizado no consumo ou em investimentos. No entanto, nas intervenções dos tesouros e bancos centrais, utilizando fartamente dinheiro público para irrigar o crédito deprimido e resgatar empresas, quando os Estados já ultrapassaram sua capacidade de endividamento presente e futura, os governos são tentados imprimir papel-moeda sem limites, tornando grande o risco de uma explosão inflacionária, pois esse dinheiro é jogado diretamente no mercado, sem as mediações encontradas nas bolhas que retardam sua entrada em circulação. Portanto, as máquinas de “falsificar” dinheiro dos governos não são capazes de substituir com eficácia as bolhas na simulação da acumulação, sem o risco de hiperinflação.

Como no horizonte não se enxerga nenhuma bolha capaz de ancorar a economia em crise e como a tendência atual dos Estados é buscar substituir os mecanismos de formação de capital fictício das bolhas por dinheiro “falso”, o suspiro momentâneo do paciente terminal reanimado pela injeção de placebos, pode se transformar logo em seguida em desastre econômico de proporções inimaginável. Dependendo da velocidade em que se dá a queima e a reposição do capital sem substância, a deflação e a inflação, como formas fenomênicas da crise, em diferentes momentos transmutam-se por se encontrarem em equilíbrio precário. E como não se vislumbra nenhuma revolução tecnológica capaz de reaquecer a máquina capitalista de “valorização do valor” (Marx), é possível uma convivência diária com esses fenômenos que manifestam a cronificação da crise, até que a sociedade tome novos rumos ou resolva se afundar na barbárie.

16.11.2008