domingo, maio 28, 2006

Instituições do medo

Rall

A televisão brasileira, como tudo em nossa sociedade, está cada vez mais igual. Na busca de audiência, pois só com grandes audiências podem ter seu quinhão garantido pelo mercado, o vale tudo passou ser a regra. Descobriu-se que fazer apreciação da violência, aterrorizar as pessoas divulgando a barbárie como sendo algo exterior à sociedade em que vivemos e apresentar as instituições policiais, pena de morte e outras formas extremas de repressão como solução, imobiliza os indivíduos na frente das telas num show sem limites. Aumentar o medo nas pessoas para facilitar o domínio é método empregado com sucesso no transcurso da história. O mede da crise global, que parece eterna e sem saída, precisa ser exorcizada a todo instante com elementos do cotidiano que mexam fundo no imaginário e transforme a imagem-mentira em última verdade.

A população por séculos, disciplinada a ferro, encontra-se aprisionada agora a “verdade” dos meios de comunicação que é a mentira-verdade produzida pelo poder. O Estado, como parte do poder e beneficiário deste espetáculo, em momento nenhum usará suas prerrogativas para mudar o caminho que vem trilhando esses meios, é só observar como a polícia colabora ativamente na produção de certos programas. Fazer diferente seria negar sua lógica e abrir mão de promover os órgãos que concentram as forças das armas e reprimem em defesa do estabelecido. São eles a razão do Estado.

A crise que se arrasta dissolve os limites éticos aceitáveis, mesmo para uma sociedade como a nossa, onde qualquer recurso é válido desde que garanta o deles. A mentira da mídia não é diferente da mentira daqueles que venderam farinha de trigo em cápsula como remédio para câncer, denunciados em show televisivo. São parte de um mesmo mundo com regras iguais: acumular a qualquer preço enquanto for possível, melhor ainda se na concorrência destruir o outro. E isso a imprensa faz com muita técnica. Sua capacidade de manipulação, seu poder de fogo nas sociedades democráticas faz dela cortejada dama pelos outros poderes. Hoje, mais velha e mais cruel, na defesa dos interesses vigentes invade as casas sem pedir licença, brigando, xingando, destruindo, prendendo, matando... paralisando pelo terror.

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