quinta-feira, maio 25, 2006

Fome Zero: o reconhecimento da impossibilidade de se criar empregos como o apregoado

Interessante discussão essa de como devem ser distribuídos os sobejos da sociedade produtora de mercadorias com os excluídos. Uns defendem a prestação de contas com notas fiscais escritas talvez em folhas de bananeiras ou em papel de embrulho, o único disponível para limpar a bunda brasileira nesses fins de mundo. Não sendo assim a esmola vira cachaça, alegria dos pobres. Outros que a esmola deve ser dada à mãe, essa sim, cuida dos filhos! A pobreza da polêmica, alimentada pela imprensa, é maior que a miséria dessa gente. Mas serve para esconder uma outra realidade: a impossibilidade de se criar novos empregos, principal promessa de campanha do atual governo. E quem acha que o setor de serviços dá conta do recado, que vai absorver os esconjurados pela indústria e suas novas tecnologias, veja o que traz a Folha de São Paulo em matéria sobre emprego em São Paulo publicada em 29.01.2003 na secção economia: “Serviços em baixa-Pela primeira vez desde 1985, quando foi iniciada a série histórica da evolução da taxa de desemprego do Dieese/Seade, o setor de serviços registra fechamento de postos de trabalho. Em 2002, foram eliminadas cerca de 8.000 vagas, o que rompe o ritmo de crescimento no setor, que no biênio 2000/2001 contratou 194 mil.”
Evita-se discutir essa realidade porque discuti-la é por em xeque a sociedade do trabalho. Mas já se ouve pela imprensa algumas vozes suplicantes, defendendo uma nova política industrial de incentivos á industria que utiliza mão-de-obra intensiva, ou seja, aquelas indústrias ditas nacionais que estão pedindo água por não serem mais competitivas no mercado globalizado. Afinado com essa postura está a nova direção do BNDS, que sonha transformar o banco em hospital das massas falidas. O melhor é transformá-lo numa grande UTI, pois vamos ter muitos pacientes em estado terminal. Mas como salvar estes pacientes? Ligando tubos de sucção à sociedade e transferindo recursos para o nosso moribundo paciente. Voltamos à política dos anos 70 que transformou o Estado num grande protetorado de apaniguados que enchiam os bolsos e deixavam para trás todo tipo de geringonça imprestável. Só que na luta feroz dos capitais, o que hoje é hegemônico não vai ceder fácil e, pela imprensa, mostram o seu poder de fogo. Seus “especialistas” começam a espalhar que emprestar dinheiro para indústria de ponta tudo bem, é empregar corretamente o dinheiro público e do trabalhador com retorno garantido. Agora, arrancar dinheiro da sociedade com mais impostos para queimar com grupos falidos, não senhor! E a tensão resultante de interesses díspares se acentua...
Mais recentemente, dia 12.02.2003, a Folha Cotidiano publicou resultado de uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos da Metrópole e Prefeitura de São Paulo sobre a favelização no Município de São Paulo. A matéria diz que a Cidade ganha uma favela a cada oito dias e que 74 pessoas por dia são empurradas ao barraco prometido. Enquanto a população da Cidade cresceu 8% na última década a das favelas aumentou em 30% no mesmo período. E aí Ministro Grazino, os pau-de-araras modernos que vão ampliar o número de favelas e reagir com violência a violência a que foram submetidos já não saem do Nordeste, são paulistanos mesmos descartados pela sociedade como objetos sem valor para o mercado. Esse movimento dos postos de trabalho que se fecham em direção às favelas que se multiplicam só tende aumentar e deve ser semelhante nos demais centros urbanos. As declarações preconceituosas e racistas contra os nordestinos, mostram que esse Ministro não entende que a grande movimentação de contingentes humanos nas décadas passadas do campo para cidade e do nordeste para o sudeste era resultado de duas situações: da fome de trabalho da indústria no pólo mais dinâmico do País e da expulsão do excedente humano do campo para cidade com a chegada da monocultura e do capital agro-industrial. A luta dos trabalhadores e a conseqüente extensão dos direitos sociais ao campo, aceleraram o processo de modernização da produção agrária. No Nordeste, ingrediente seca, com sua industria de latifúndios, entra como um elemento a mais porém não determinante dessa tragédia. Se o objetivo dessa política de distribuir esmola é segurar o homem no campo está fada ao fracasso, pois não tem mais o que segurar. Mas o que de fato interessa ao espetáculo é ganhar tempo nos distraindo com nossa própria miséria.

RALL

05.03.2003

Nenhum comentário: