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Há alguma relação entre a contida falência do banco Panamericano e a situação da economia mundial?
A surpresa foi total, dos contribuintes do baú da felicidade aos renomados analistas, todos perplexos perguntaram-se como pode um banco de um grupo aparentemente sólido ter que ser socorrido de um rombo de mais dois e meio bilhões de reais para não falir! Do espectador passivo, que recebe como verdadeiras as imagens escolhidas e repetidas pela mídia (para não esquecer Derbord), em que na tela, o principal proprietário desse grupo, distribui espetacularmente dinheiro e convence os seus seguidores que consumindo suas mercadorias estão comprando bilhetes premiados da felicidade, não se poderia esperar manifestação diferente. Para os analistas, habituados a palpitar com tanta segurança sobre os fundamentos da economia brasileira, a surpresa é um momento de estranhamento entre suas convicções e o comportamento dos fatos econômicos que fogem ao esperado, mesmo que tais fatos aparentem uma manifestação isolada da fraqueza de uma empresa. Isto os leva a ver apressadamente, na malversação dos recursos por interesses particulares à única causa da derrocada de uma empresa.
Os executivos dos bancos, corretores e gerentes, da mesma forma que os agentes de qualquer outra instituição não financeira, não separam seus interesses privados dos interesses das empresas para a qual trabalham. Podemos afirmar que é isso que os motiva. Acreditam alguns analistas que estes podem exceder os limites aceitáveis e levados por incentivos, enveredarem pelo chamado “risco moral”, quando de posse de informações privilegiadas se beneficiam financeiramente em detrimento dos acionistas e dos proprietários. É o problema das informações assimétricas que quando não controladas pode matar a galinha dos ovos de ouro, situação geralmente associadas à má gestão. No entanto, no capitalismo não há uma questão ética, mas de acumulação de capital. O termo “risco moral”, expressa, de forma incompleta, como se manifesta à superfície dos fatos a lógica cega que move os agentes econômico, "a valorização do valor como sujeito automático da sociedade (Marx).”
Mas as dificuldades dos pequenos bancos não devem estar só relacionadas com a usura de poucos e a incompetência gerencial como quer a grande imprensa. Pode ser um agravante, sem dúvida, porém não se deve esquecer que com o encarecimento do dinheiro nas operações interbancárias em 2007 e 2008, associado a apostas ariscadas anteriores a este período, praticadas livremente por todos, deve ter afetado profundamente os balanços dos pequenos bancos. O repetido discurso oficial de que os bancos brasileiros são suficientemente sólidos e estão preparados para enfrentar a instabilidade financeira que assola o mundo não é verdadeiro(1). Os primeiros desmentidos vieram da forçada fusão do Itaú com o Unibanco, cujo real motivo, o efeito da crise, só recentemente foi revelado por um diretor do Banco Centra, logo em seguida demitido, em matéria publicada no Jornal Valor Econômico.
As crises financeiras se propagam em ondas pelo globo. Atingem de forma desigual na intensidade e no tempo países e continentes, dependendo da integração de suas economias. Em certos momentos, águas que pareciam calmas tornam-se revoltas como agora assistimos na Europa. No Brasil, os diques velozmente erguidos pelo Governo com as estacas dos bancos estatais, para impedir que as ondas açoitassem com mais força a economia local, nem por isso deixou de fazê-lo. É só lembrar, entre outras, os enormes prejuízos com derivativos que atingiu grandes empresas e forçou a fusão da Sadia com a Perdigão. Mas no sobe e desce do balanço contínuo, os diques estatais podem soçobrar à energia das ondas, transbordando ou rompendo-se por não suportar a pressão. A debacle do Panamericano pode ser o primeiro sinal. As dificuldades no câmbio na luta feroz pelos mercados, agravadas pelas recorrentes emissões de dinheiro sem substância pelo Fed e o endividamento público das nações sem precedente em tempo de paz, tende intensificar mais ainda a força destruidora crise financeira mundial. E o que parecia uma “marolinha” para o atual Presidente, pode transformar-se em um tsunami para sua sucessora.
(1) O Brasil está imune à crise?
21.11.2010
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