quarta-feira, junho 11, 2008

NEM QUE TODOS MORRAM DE FOME...

Rall


O estouro da bolha imobiliária e a fuga dos capitais das bolsas de valores têm direcionado o dinheiro para as commodities com repercussão nos preços do petróleo, metais e alimentos. É claro que o redirecionamento da produção mundial de mercadorias para países como a China, Índia e mesmo o Brasil entre outros, tem aumentado o consumo de commodities. Mas, vale ressalvar, que pelo menos China e Índia, vem apresentando crescimento econômico próximos dos percentuais atuais há vários anos sem que as commodities subam tanto como se tem observado após o estouro da bolha imobiliária, mesmo sabendo-se que seus preços sempre estiveram sujeitos à variações especulativas. Num capitalismo que não mais consegue respirar sem bolhas, era previsível após o estouro de uma surgisse a necessidade de geração de outras (1), mesmo porque o capital sobre ameaça de ser consumido pelo fogo da crise tende a escapar para lugares aparentemente mais seguros à medida que as labaredas aumentam. E o que, mas imediatamente se apresenta pronto a acolhe-lo no mercado, são as commodities de toda natureza.

A situação mundial de abastecimento dessas commodities ajuda também na formação da bolha. O preço do petróleo, por exemplo, tem variado a partir de situações reais como os limites de fornecimento desse produto pela natureza e a instabilidade no Oriente Médio. A fraqueza do dólar e a inflação mundial são outros elementos de instabilidade dos preços. Mas não são suficientes para explicar altas tão significativas como na sexta-feira de 06/06/2008, quando o barril subiu mais de dez dólares frente a indicadores de que a economia americana fazia água. Se olharmos com cuidado os momentos recentes de aceleração do preço do barril, veremos que está colado ao agravamento da crise imobiliária e as dificuldades dessa economia se manter em pé. Ou seja, parte do capital que antes se multiplicava do nada em outras plagas, frente às ameaças de ser tragado pela crise, hoje se desloca com toda força para as commodities.

O estranho comportamento das bolsas de valores em todo mundo, que sofrem fortes quedas pela desvalorização das ações dos bancos e das financeiras, e em outros momentos se recuperam com o aumento dos preços das ações das empresas petrolíferas e das que lidam com extração e processamento de metais, desconsiderando o agravamento da crise e a possibilidade real de uma recessão global, apontam para formação de uma bolha nas commodities. Quanto às bolsas de mercadorias, as safras dos produtos agrícolas são aí negociadas várias vezes ao ano, o giro vem aumentando absurdamente. Em 2007 a safra de soja foi negociada 22 vezes e a de milho 10 vezes mais do que a produção física desses produtos. Só os fundos negociaram em média 8 vezes as safras agrícolas no ano de 2007, segundo matéria publicada recentemente na Folha de São Paulo, contra 3,5 em média em anos recentes. Na verdade o que se compra e vende nessas bolsas são derivativos financeiros, papeis derivados de ativos reais, que dependendo dos rumos da cotação terminam contaminando os preços dos produtos e vice-versa.

Mas os grandes fundos, não satisfeitos com os lucros resultante desse jogo de compra e venda de papeis, resolveram investir pesado na produção e comercialização dos produtos agrícolas, adquirindo enorme extensão de terras produtivas aráveis no mundo, inclusive indústrias de fertilizantes, silos de armazenagem de grãos, equipamentos de transporte e vias de escoamento, dando-lhes grandes vantagens na especulação dos preços desses produtos e dos papéis correspondentes negociados nos mercados futuros, já que podem influenciar na cadeia produtiva, no transporte e na comercialização dos produtos agrícolas. Fala-se em mais de 40 trilhões de dólares disponíveis em busca de aplicações rentáveis. Nesse jogo pesado de muito dinheiro sem substância, que deverá concentrar e elevar os preços das terras ao infinito, o médio e pequeno agricultor, principais responsáveis pela produção de alimentos consumidos pela população, poderão sumir do mapa muito rapidamente. É provável que os fundos, associados a outros grupos que já atuam especulando no mercado, determinem em curto prazo os preços dos produtos agrícolas na produção e na comercialização segundo seus interesses financeiros. Preços altos dos alimentos para o consumidor não significam necessariamente preços "justos" para o agricultor.

Como a queima de dinheiro pela crise não é suficiente para destruir todo capital fictício circulante, mesmo porque esse capital continua sendo gerado em velocidade estonteante pelos mais diversos mecanismos como meio de evitar o colapso do capitalismo, novas bolhas como a das commodities podem ser geradas, absorvendo e aumentando o capital sem rumo, trazendo uma estabilidade provisória e um precário equilíbrio à economia mundial, até que um novo espasmo se manifeste e lembre a existência e a gravidade da crise. O que difere a bolha das commodities de outras é que ela traz consigo o desabastecimento e o agravamento da carestia que levará milhões a morrer de fome, aumentando a violência e a barbárie em todos Continentes para manter ativa a máquina de "valorização do valor".

(1) Procura-se uma nova bolha

11/06/2008

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