É ingenuidade imaginar que só os banqueiros são beneficiados com os juros altos. Todo setor produtivo como também o comércio e serviços, se beneficiam ao vender a crédito de duas maneiras: 1. aumentando as vendas, 2. aumentando seus lucros cobrando juros exorbitantes. Hoje as empresas ou possuem seus próprios bancos ou financeiras ou trabalham em parceria com o setor financeiro, beneficiando-se do mesmo jeito.
Suspeito que esses mecanismos são utilizados para compensar a baixa rentabilidade oferecida pela economia real. É uma forma disfarçada de manter os preços altos, não deixa de não ser uma forma de manter inflação para uma camada da população que só pode adquirir bens à prestação.
Com os juros altos, ganha os bancos, ganha o comércio e a indústria e a parcela privilegiada da população que pode comprar à vista, com descontos, e ainda investir suas sobras na ciranda financeira. Em resumo: os juros altos são uma forma de transferir renda dos menos privilegiados para os mais privilegiados, mecanismo nada novo em nosso capitalismo tupiniquim.
Isso exige que o Estado sinalize para o mercado que os juros vão se manter em determinados patamares. Por outro lado, se os juros caem por ação do Banco Central e ameaça os rendimentos dos privilegiados, “a mão invisível” do mercado reage aumentando a inflação como forma de manter os rendimentos dos agentes econômicos.
A grita de setores do empresariado, geralmente os mais endividados ou os que estão fora da economia de escala, diz respeito aos seus empréstimos e não o que repassam para os consumidores na forma de juros altos. Ninguém abre mão de seus lucros porque o vizinho está fechando as portas ou o outro está a morrer de fome. Não há discurso moral que reverta essa lógica irracional.
Além das camadas da população que antes não tinham como se salvar da inflação e agora dos juros altos, a conta é paga também pelo Estado que para isso penaliza as camadas não privilegiadas com seus impostos desiguais. Os desfavorecidos são achacados duas vezes: pelos altos juros do mercado e pelos impostos do governo. Eis aí uma hipótese para ajudar a explicar a enorme concentração de renda nesse país.
Ao contrário do que muitos imaginam, os juros altos talvez seja a bolha que movimenta a ilha de prosperidade cercada pelo mar de miséria que ameaça inunda-la. Apesar dos discursos contrários, pouco pode fazer os agentes econômicos à não ser tirar proveito do que lhe é oferecido nessas circunstâncias, agem como “sujeito automático” na busca do lucro. Não tem ou não precisam ter clara consciência do fenômeno que eles mesmos produzem, mas que lhes é estranho, ao defender seus interesses. Desvendar os mistérios da economia não é seu dever. Se assim não fosse teriam a economia sobre as rédeas.
O discurso da esquerda radical, contra a especulação financeira que esfola o capital produtivo e o trabalho, é no mínimo ingênuo. Aí tem seu ponto de encontro com a direita autoritária de tinturas nacionalista. Tal discurso aparentemente justo, alimenta o populismo de toda espécie, nada muda e geralmente conduz ao sectarismo sem saída. Nesse momento, só a crítica categorial aos fundamentos da sociedade capitalista é realista.
23.07.2006
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