Rall
A insatisfação difusa e a violência institucional ao reprimir as
manifestações pelo passe livre levaram as massas às ruas. As novas tecnologias
de informação foram os meios que permitiram a comunicação entre as pessoas,
garantindo a mobilização. Há, principalmente entre os jovens, uma gama de
insatisfação acumulada impossível de ser respondida pelo o institucionalizado,
mesmo porque, uma das principais é contra as instituições erigidas pela
democracia burguesa para dar sustentação ao capitalismo. Sem esse pano de fundo
que leva a inquietação, e que só deve crescer com a intensificação da crise
global do capitalismo, não haveria mobilização.
Essa insatisfação, no entanto,
permanece na superfície dos fenômenos gerados pela sociedade produtora de
mercadorias. Há uma crença ingênua de que as instituições são passíveis de
mudanças, corrigindo-se os rumos que tomaram ao serem apropriadas por
indivíduos gananciosos. Aí está um grande equívoco que merece ser discutido.
Pois, ao contrário do que se pensa, essas instituições que dão sustentação a
sociedade que persegue a "valorização do valor" (Marx) como um fim em
si, funcionam sobre a ação do "sujeito automático” (Marx), que foge ao
controle das vontades. Isso, no entanto, não exime o indivíduo de
responsabilidades, pois mesmo dentro dos limites do agir impostos pelo mundo
fetichizado, opções que envolvem a consciência podem ser feitas.
O indivíduo ao vir ao mundo,
mergulha num "substrato" que passa ser interiorizado nas
relações mais íntimas, familiares ou não, nas escolas, nas ruas, nas mídias e
nos produtos da indústria cultural. Assim, sob violenta coerção, vem sendo há
séculos socializados para o mercado e para o Estado. E o que compõe esse
"substrato"? O núcleo duro da lógica do valor e da dissociação, que
se busca amaciar com alguns floreios éticos de resultados duvidosos. Esse
"substrato", impregnado de ideologias sustentadoras e justificadoras
da ordem existente, que procura polir as iniquidades mais gritantes com
discursos vazios, tem no aparelho do Estado financiado pelo setor privado seu
principal alimentador. Este se esforça para, pelo menos na aparência, se
colocar como árbitro acima dos conflitos.
O Estado tem na mídia o seu mais forte aliado, tanto na
transformação das contestações do sistema em seu contrário, como na
justificativa da repressão. Nesse jogo de domar e reprimir, a história das
lutas sociais mostra-se cheia de "a favor do contra". O que agora
observamos nas ruas, são grupos que saem armados, não para enfrentar a
repressão, mas para depredar sobre o olhar passivo da polícia que tem
estratégias muito bem definidas. Com isso prestam dois grandes serviços: um a
repressão, pois assim pode justificar perante a população a violência contra o
movimento quando acharem necessário; outro, aos que querem esvaziar as manifestações
pelo medo, incluindo-se aí os governos, políticos e a mídia.
Esses grupos, formados de
mônadas isoladas, geralmente infestados de provocadores e de agentes do
aparelho repressivo, carregam um antissemitismo estrutural que vê na expansão
do capital financeiro não um subproduto da crise geral da acumulação real, mas
o bode expiatório dos males da sociedade. Não é a totalidade capitalista que
combatem e nem sequer seus efeitos mais perversos. Desarmados teoricamente,
onde a verdade restringe-se aos seus microcosmos empobrecidos, utilizando-se de
um raciocínio simplificado e redutor, agem desviando o foco das lutas
incipientes por reivindicações imediatas, sem, no entanto, contribuir em nada
para uma crítica radical e a formação de uma consciência crítica.
Provocam com a violência
tolerada, o refluxo do movimento que a repressão institucionalizada com todo
aparato disponível não consegue. Como nas lutas sociais não se permite
inocência, isso terá um preço: logo veremos se serão agraciados pelo sistema
pelo trabalho consciente ou inconscientemente prestado, ou se serão isolados a
tempo pelo movimento. Para enfrentar as dificuldades internas e avançar, movimentos
como o que vivenciamos, carecem de elaborações teóricas sobre os rumos a serem
seguidos(1) e se organizarem conforme as questões são postas no momento da
história.
28.07.2013
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