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É esclarecedor os dados divulgados pelo IBGE sobre a tendência da industria brasileira que mostram que a “participação na produção total de setores mais sofisticados encolheu 16% nos últimos dez anos” (F. de S. Paulo 17.06.07). Enquanto setores industriais de média/baixa e baixa tecnologia cresceram neste período de +132,8% (fabricação de coque, refino de petróleo e combustíveis) a + 27,3% (produtos de madeira), a indústria de ponta encolheu de –11,5% (aparelhos e materiais elétricos) a – 43,0% (material e equipamentos eletrônicos), segundo o IBGE. Essa tendência, que deve se acentuar com o acirramento da concorrência a nível mundial é pior do que muitos analistas desejavam. Setores de baixa tecnologia, como calçados e têxteis, que sustentavam sua expansão com os aumentos das vendas no mercado externo as custas mais de um câmbio favorável do que da produtividade, vem sofrendo um encolhimento brutal sem perspectiva de reversão apesar das medidas do Governo ou outras que venham a ser tomadas para favorece-los.
Ora, se não se consegue competir com a indústria de ponta instalada lá fora, cuja velocidade dos avanços tecnológicos e das exigências de investimentos em capital fixo não estão ao alcance da indústria local, e se os setores de baixa e média tecnologia sofrem externa e internamente com as mercadorias baratas que inundam o mercado vindas da China e de outros países, é claro a tendência a desindustrialização a partir das empresas que não conseguem competir por incapacidade de acompanhar os investimentos necessários em capital fixo, tornando-se, portanto obsoletas, ou por não ter custos de produção similar a outros países em desenvolvimento que associam trabalho barato a extensas cargas horárias, utilizando-se do mais violento disciplinamento na produção de mais-valia absoluta sob a tutela de Estados ditatoriais. Como já vem acontecendo com a produção de calçados e têxteis, logo será a vez dos produtos metálicos, de borracha, de plástico e outros que utilizam intensivamente a força de trabalho.
A conjuntura externa aparentemente favorável e um certo espasmo de crescimento do mercado interno, que logo deve esbarrar nas condições infraestruturais responsáveis principalmente pelo fornecimento de energia e pelo escoamento dos produtos, não são suficientes, mesmo que a possibilidade de crise não estivesse nos horizontes, para reverter o quadro da desindustrialização, reflexo, em nosso caso, do capitalismo no estágio atual da terceira revolução industrial que é alimentada pelo combustível da feroz competição e pela velocidade com que ganham o mercado as inovações tecnológicas sob o domínio dos países ricos.
A situação fica mais dramática quando ao analisarmos a tendência da economia brasileira, observamos que os setores que podem permanecer vivos e com chances de crescer, são aqueles que mais trarão prejuízos às condições de vida da população rural e ao meio ambiente, como a agroindústria, cuja expansão vem exigindo a massiva destruição das matas e dos rios, e com isso da diversidade biológica, e a indústria extrativa e de derivados de petróleo com suas ramificações altamente poluentes. São também conhecidas pela alta concentração de riqueza, pelos baixos salários e pelas condições insalubre de trabalho que reduz em alguns anos a vida de quem nelas trabalham.
Quanto ao Governo, apesar de algumas tênues resistências como as observadas no Ministério do Meio Ambiente, as ações convergem para a pavimentação desse caminho, mesmo porque não existe outra opção de inserção do País nos níveis hierárquicos inferiores do capitalismo mundial. A prova disso é o cego entusiasmo pelos biocombustivéis, sem uma análise dos efeitos colaterais, que são vistos, de forma míope, como saída para crise do trabalho e geração de energia mais limpa.
19.06.2007
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