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A gravidade da crise
ecológica, resultado de três séculos de desenfreada destruição da natureza pela
lógica cega do capital, que pode levar a vida na terra ao colapso, se expressa
de forma contundente em fatos como seca do Sudeste do Brasil, a maior desde
quando se mede níveis pluviométricos nesta região há mais de 80 anos. A destruição da Floresta Amazônica e as de outros
continentes pode desarranjar o clima independente do aquecimento global pelo
aumento do dióxido de carbono e outros resíduos da produção industrial.
Os estudos que predizem
mudanças climáticas impactantes com a derrubada da Floresta Amazônica têm sido
recebidos com deboche pelos políticos e pouco considerados por uma sociedade
insuficientemente informada sobre a gravidade da questão. Como o aquecimento
global frequentemente faz parte da pauta da grande imprensa, as queimadas
chamam a atenção não pelo que pode causar a destruição da Floresta, mas pela
quantidade de carbono que pode ser jogado na atmosfera assim como o uso de
combustíveis fósseis. A importância das florestas como condicionantes do clima
local, capaz de garantir vida dentro e fora de seus limites, é desconhecida
pela maioria das pessoas. As árvores cortadas por motosserras, desde que não
sejam queimadas e possam ser transformadas em assoalhos, mesas, cadeiras e
outras mercadorias para o deleite de ávidos consumidores está tudo bem.
Em recente entrevista ao
Jornal Valor Econômica em 31.10.2014, o pesquisador do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), Antônio Donato Nobre, uma das maiores autoridades
em Floresta Amazônica, alarmado, fala dos riscos que correm as áreas desmatadas,
as imediações da floresta, o Sudeste brasileiro e outras regiões de países
vizinhos de se transformarem em desertos se a Amazônia deixar de funcionar
enquanto ecossistema que faz parte de um sistema maior regulador do clima.
Estudos mostram nexos bem
estabelecidos entre a transpiração das árvores da Floresta, que jogam mais água
na atmosfera do que a despejada pelo rio Amazonas no mar por dia que corresponde
a 20% da água doce do mundo, a água evaporada do Oceano Atlântico e empurrada
para dentro do continente Sul-americano e o clima em vastas regiões do Brasil e
países fronteiriços. Diz o pesquisador: "Uma árvores grande da Amazônia, com dez metros de raio de
copa, coloca mais de mil litros de água por dia pela transpiração”, que são
jogados na atmosfera na forma de vapor. “Esse ar úmido é também exportado para
áreas como o Sudeste, com vocação para deserto”. As chuvas nessa região “que
vai de Cuiabá a Buenos Aires, de São Paulo aos Andes e produz 70% do PIB da América
do Sul”, dependem desses rios aéreos.
Não há necessidade de
aprofundados conhecimentos para sentir que os riscos são reais. Há poucas
décadas atrás São Paulo era conhecida como Cidade da garoa (nevoa úmida com
chuviscos constantes), cantada nos versos de Adoniran Barbosa e de outros
poetas. Os primeiros sinais de que alguma coisa não vai bem com o clima, foi a rarefação
desse fenômeno acompanhado de um aumento de temperatura da Cidade. Segundo,
eventos antes seculares como secas intensas que culminou com a atual, são cada
vez mais frequentes.
A história das mudanças
climáticas na terra mostra que as viradas do clima são bruscas, após acumular
mudanças quase imperceptíveis muitas vezes por séculos. É possível que o
Sudeste e outras regiões brasileiras e de países vizinhos que dependem do clima
amazônico, estejam neste ponto de viragem. Talvez seja tarde para evitar que eventos
climáticos extremos como esse se tornem frequentes e levem a desertificação.
No entanto, não são os apelos
por uma “agricultura consciente” que vão parar os desmatamentos. As mesmas
empresas e agricultores que sofrem prejuízos com as secas em consequências do desmatamento
na Amazônia, migraram de outras regiões aonde a agricultura deixou de ser
rentável pelo esgotamento do solo e mudanças climáticas relacionadas com o
regime pluvial em função da destruição da Mata Atlântica. A lógica cega que
põem em movimento as motosserras do agronegócio, a mesma que empurra o
capitalismo para o seu “limite absoluto” (Kurz), não permite que se enxergue o
problema climático da destruição das florestas como também um problema para
produção agrícola, mesmo que mais à frente as consequências sejam funestas ao
lucro dos negócios. Por outro lado, o Estado omisso é conivente com essa
situação e com seus agentes, como mostra os registros da destruição e os mais
recentes dados sobre o aumento brutal do desmatamento em 2014, vergonhosamente
escondidos às vésperas das eleições.
Só um vigoroso movimento
em defesa da vida e da natureza, que leve às ruas a população de fato ameaçada,
pode se contrapor a lógica destrutiva do capital. A consciência desse problema
começa a ganhar vulto à medida que nas torneiras a água míngua. Mas é preciso
que as ruas se agitem para que o que ainda se manifesta como um incômodo no conforto
dos indivíduos, se transforme em problema coletivo capaz de mobilizar e
desmascarar as mentiras políticas. A luta pela água e preservação da natureza
que é uma só, tem enorme potencial mobilizador nas várias camadas sociais.
A luta contra o desmatamento da Floresta Amazônica
não se restringe a destruição da maior área de biodiversidade do planeta e ao
genocídio dos índios pelos séculos afora, ações criminosas tão graves quanto os
crimes de guerra, mas o risco que agora corre uma vasta região do planeta e sua
população de sucumbirem às mudanças climáticas catastróficas.
11.11.2014
Um comentário:
Gostei do blog. Como diz Aline: “O mal que está no mundo, está no homem e a natureza responde como um reflexo”. https://www.youtube.com/watch?v=-SQ-HK4O4v8&feature=share&list=UUBvY_tI9xN0wVbBqJMxSr6g
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