Rall
O ano finda-se frustrando aqueles que acreditavam que a
revolução estava às portas. As manifestações perderam seu ímpeto apesar do
crescente mal estar, ajudado pelos defensores da “estética” da violência a
troco de nada. Porém, contrasta com essa aparente calmaria a luta entre as nações e entre os capitais particulares pelo
espólio do mercado após os tremores da crise 2007/2008. Os rearranjos são
evidentes, e o País que tem a hegemonia da força, da moeda e tecnologia avançada, os EUA, dá sinais de que pode respirar sem os socorros do Fed.
A desvalorização do dólar frente às demais moedas, a
intensificação do desenvolvimento tecnológico e a queda no custo dos
equipamentos de automação que tem levado a instalação das chamadas “fábricas
fantasmas” que podem produzir 24 horas ininterruptas, vem permitindo um certo
repatriamento da indústria e aumentando as exportações.
Se considerarmos que dinheiro barato para investir e crédito
a juros negativos para o consumo sobra neste País, há de se concluir que muito
desse dinheiro escapa para os espaços de especulação. O desempenho positivo das bolsas nos Estados Unidos e, até mesmo, uma retomada dos negócios imobiliários, é um sinal disso.
Porém, a crise continua seu curso, ela não se esgota com a retomada da economia
americana.
A crise do capitalismo contemporâneo, da qual nada escapa, é crônica e assimétrica,
com momentos de agudização em intervalos cada vez mais curtos e mais
destrutivos. É possível, durante um longo período que não podemos predizer, que
as terras de ninguém “desertificadas” pela fuga de capitais por não mais
encontrar aí os lucros esperados, aumentem rapidamente e, na mesma proporção,
os oásis do capital e do consumo, restrinja-se a alguns países.
E quem haverá de lembrar-se do Haiti(1)? Dos países africanos
cujos estados degeneram em bandos armados para garantirem seu butim? E o Médio
Oriente e Norte da África, o que resta de suas revoluções e das esperanças despertadas(2)? E assim
vai... na medida em que o capitalismo encolhe e é devorado pelas suas próprias
contradições, o que se manifesta é o aprofundamento da barbárie, a matança, o
genocídio próprio da lógica intrínseca dessa forma social.
Nesse momento de crise crônica, insolúvel nos limites dessa
forma de produção, o que se observa são os países mais bem posicionados
transferindo para os mais frágeis suas dificuldades. Os países centrais da
Europa sacrificando até o limite da sobrevivência os países periféricos e seus
próprios cidadãos. A “retomada” da Americana do Norte corre em paralelo com o
agravamento da crise na América Latina e, em particular, no Brasil(3). A exceção
são os países que funcionam como extensão da economia americana.
A China enfrenta dificuldades que deve se agravar em médio
prazo com o colapso do circuito de comércio deficitário que mantinha com os EUA
e as questões internas relacionas com capacidade instalada, bolha imobiliária e um sistema financeiro vergado pelos créditos podres. As indústrias americanas aí instaladas para exportação
fazem um movimento inverso. As condições agora oferecidas, considerando ainda
distância, logística, e a mudança do patamar salarial, já não mais atraem os
exportadores. Estes preferem no momento voltar ao solo pátrio onde lhes são
ofertadas vantagens de toda ordem além da tecnologia disponível.
A crise, que se move
em ondas gigantes, sem temer obstáculos que lhe queiram imprimir os gestores do capital e a falácia
política, atinge agora perigosamente os BRICS e os países correlatos do chamado
mundo subdesenvolvido. Portanto, as ondas do tsunami que teve início com os
potentes tremores nos centros financeiros mundiais, após as destruições
deixadas em solo americano, percorrem a Europa e satélites, e agora invadem sem
dó os países periféricos do capitalismo global. Para os desavisados que acham
que tudo está na iminência de ser resolvido, é bom lembrar que são sete anos de
destruição e violência sem trégua.
(1) Haiti, a nódoa escondida do capitalismo mundial
(2) A rebelião dos jovens desempregados do norte da África
(3) Enquanto o novo não se manifesta
(2) A rebelião dos jovens desempregados do norte da África
(3) Enquanto o novo não se manifesta
31.01.2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário